5 coisas para não perder no Palazzo Ducale, em Veneza

O Palazzo Ducale era a sede do governo da república de Veneza, que se manteve do século IX ao século XVIII – isso é tanto tempo que, desde que ela acabou, ainda não passou nem a metade de sua duração. Era lá que as principais decisões do governo aconteciam, incluindo criação de leis, julgamentos e condenações.

Como você pode imaginar, o governo era formado por homens ricos, o que não deixava o resto da cidade numa posição lá muito boa. Mas, já que são eles que contam a história, uma das primeiras placas informativas do trajeto exalta o sucesso do sistema. Afinal, não havia uma constituição escrita, mas a paz social foi garantia por séculos. Depois da metade dos anos 1300, não haviam mais rebeliões e ninguém sequer questionava os direitos da aristocracia para controlar o  governo. E termina ainda mais contente: “o regime tinha um extraordinário apoio popular e habilidosamente alimentou o seu próprio mito”.

Particularmente, tenho minhas dúvidas sobre o quanto era bom ser uma pessoa qualquer em Veneza no ano de 1300, enquanto as decisões eram tomadas por um grupo seleto de gente rica trancada dentro de um forte. E acho que, se a gente simplesmente ler as placas dentro dos museus sem questionar o que está escrito ali, o próprio museu deixa de cumprir o seu propósito.

But I digress!

Então, vamos ao que interessa: quais são 5 coisas para não perder quando visitar o Palazzo Ducale em Veneza?

1. As Bocas de Leão

Eram buracos na parede onde as pessoas podiam escrever denúncias anônimas em um bilhete e colocar lá dentro, para que as autoridades investigassem. O próprio Palazzo avisa que isso raramente era feito, e também tenho lá minhas dúvidas sobre quantas pessoas sabiam escrever na República de Veneza. Mas você poderá ver ao menos duas: uma, por fora, logo no pátio principal, à esquerda; a outra, por dentro, numa das salas nos andares superiores.

À esquerda, parede com uma boca de leão vista de fora; à direita, a boca de leão vista por dentro no Palazzo Ducale, em Veneza

2. Ouro até no teto

A República de Veneza era riquíssima. E, se tiver alguma dúvida, é só olhar pra cima: a maioria das salas tem tetos decoradíssimos, com afrescos feitos por nomes como Veronese, Tintoretto e Tiziano. Essas obras exaltam os valores e conquistas da República e são emolduradas por formas suntuosas esculpidas e cobertas de ouro.

O primeiro lugar onde isso chama a atenção a ponto de arrancar um “maaaano!” é a primeira escadaria, no começo do percurso – convenhamos, é a primeira. A partir dali, boa parte do trajeto é feita com o pescoço para cima. A mais impressionante, no entanto, fica na sala do Grande Conselho, que é a maior delas e onde você provavelmente vai passar um bom tempo admirando o entorno.

Graças a Deus, sentado: ali é o único ponto do trajeto onde dá pra se sentar, rs.

Foto aberta de uma sala com afrescos no teto e nas paredes com adornos dourados no Palazzo Ducale, em Veneza
Essa sala não é a do Grande Conselho, mas continua lendo que vamos chegar lá

3. O Doge traidor

Foto de afrescos no Palazzo Ducale, em Veneza
A qualidade tá péssima porque esqueci de tirar foto e tive que dar print nos Stories, rs

Nessa sala, há afrescos por toda parte, não apenas no teto. Observe, no alto, uma faixa que dá a volta por tudo e retrata vários homens muito parecidos usando capas vermelhas. São os Doge, ou seja, os chefões da República.

Mas, no canto esquerdo, você verá que tem um pano preto pintado no lugar de um deles. Ali é onde deveria estar Marin Faliero, que arquitetou um golpe mas foi descoberto. Traidor da República, ele não foi apenas condenado à morte, mas também ao damnatio memoriae, isto é, o apagamento total de sua existência, basicamente.

Podemos combinar que não deu certo, né? Afinal, dos 76 Doges retratados na sala, ele é o único mencionado na descrição.

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4. O Paraíso

Na mesma sala, na parede oposta, há uma pintura enorme, que é uma das maiores telas do mundo. Medindo quase 25m por 7,5m, O Paraíso de Tintoretto ocupa toda a parede.

GIF que mostra Il Paradiso e a sala inteira
A obra e o salão do Grande Conselho

5. Ponte dos Suspiros

Talvez ela seja o motivo principal da visita de muita gente ao Palazzo (confesso, foi o meu!). Ela conecta o Palazzo à prisão e era usada exatamente para isso: levar quem era condenado à cela… De onde provavelmente não sairia.

A prisão fica perto do canal, então imagino que sofra com todas as consequências disso: o calor úmido e sem ventilação do verão, o frio que dói só de respirar no inverno, a Acqua Alta, a ausência de sol…

De um lado, a vista de fora da Ponte dos Suspiros; do outro, a vista do Canal Grande por um buraquinho na janela da ponte
Ponte dos Suspiros vista de pertinho e a vista que se tem de dentro dela

Tem um tour que começa pela prisão e fala dela com mais detalhes, mas, quando fomos (julho de 2020), não estava disponível. Ele passa, por exemplo, pelas celas que ficam na parte mais alta e eram dedicadas aos presos mais ricos – foi lá que Casanova ficou preso, e de onde conseguiu fugir.

Leia também: A vista na Ponte dos Suspiros realmente faz suspirar?

Palazzo Ducale em Veneza: vale a pena?

Quando visitamos o Palazzo Ducale, o valor do ingresso estava promocional: 14 euros, se não me engano, pós-pandemia. Por esse valor, e por morarmos perto de Veneza e estarmos sempre ali, não entraria no MEU “tem que ver” da cidade.

Mas, para quem vem visitar, acho que é uma boa opção para conhecer um outro lado da cidade. Afinal, Veneza tem essa atmosfera peculiar, romântica… Mas sua história é muito antiga, marcada por períodos de glória, austeridade, guerras e tudo o mais. E acho que o Palazzo Ducale dá bem essa sensação.

 

Vista do pátio dentro do Palazzo Ducale em Veneza
Vista ao entrar no Palazzo Ducale
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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Giovana mal pode esperar pela terça-feira à tarde na qual estará tomando um drink numa praia no Mar Mediterrâneo rindo muito de tudo isso. Enquanto isso, escreve sobre viagem e morar no exterior por aqui!