Caramba, um mês e meio sem escrever uma linha neste blog. Acho que é hora de quebrar o gelo.
Desde o último post, as coisas aconteceram em velocidades mais rápidas do que eu consegui notar. Do nada, é fim de maio. Maio! Já estamos quase na metade do ano que não começou. Por outro lado, as coisas começaram a mudar em Londres, e eu fui rapidamente impactada por elas mais do que eu imaginava.
Estamos vivendo, aqui, o início do fim da pandemia.
E acho que a primeira grande mudança veio com os estágios de relaxamento do lockdown. Na mesma semana em que os bares e pubs puderam reabrir, eu fiz dois testes em um único fim de semana, e fui chamada para trabalhar nos dois lugares. Escolhi apenas um, o que era mais perto da minha casa, e agora trabalho de segunda a sexta-feira para o Brasil, e de fim de semana no restaurante.
Na minha segunda semana, passei de runner (a pessoa que leva e busca pratos) para hospitality (a pessoa que conversa com os clientes, anota pedidos e tudo o mais), e entendi como um tipo de validação da minha simpatia e do meu inglês. Mas, no fundo, eu só estava muito, mas muito feliz mesmo, de ter arrumado um trabalho tão rápido, de poder sair de casa, de conhecer pessoas novas.
Também me dei o desafio de me exercitar todos os dias em maio. Ou melhor, quase todos, porque de fim de semana ando cerca de 20km dentro do pub, e sempre tiro as sextas-feiras como dia de descanso. Esse hábito instaurado na marra tem me trazido coisas que eu precisava: disciplina, força, auto estima. Esta última está sendo particularmente difícil de reconquistar depois do meu corte de cabelo pandêmico, mas já consigo até prender um pequeno rabo de cavalo e tenho fé que, até o verão, poderei novamente descolorir as pontas com crueldade e deixá-lo embaraçar no vento para parecer que sou muito mais praiera do que sou de verdade.
Seis meses em Londres. Quase sete.
Completei seis meses morando em Londres, seis meses em que praticamente não fiz nada, só vi fachadas de prédios e fui no supermercado. Mas agora as coisas realmente começaram a mudar. Já fui ao pub torcer para o Arsenal, almocei fora, até fazer uma audição pra um musical e escalar dentro de um castelo foi algo real que aconteceu (vou fazer post contando sobre isso!). A reabertura gradual coincidiu com o avanço da primavera, mas a primavera resolveu esperar mais um pouco: só chove há semanas. Não vou dizer que isso não abala o humor, porque o céu cinza e a garoa gelada acabam com qualquer humor. Mas a sensação de primavera, de renascimento, de desabrochar, toda essa papagaiada não está apenas presente, mas parece que grita pela janela, grita na mesa ao lado, grita nos parques.
A gente costuma ouvir sobre como ingleses são frios, discretos e tudo o mais. Eu discordo. Todos os ingleses que conheci são altos, não de estatura (ok, também são), mas de ânimo. Eles falam alto, riem com a cabeça para trás, batem a mão na mesa, te cumprimentam de longe e te abraçam de perto. A primeira pessoa que eu abracei em muitos meses foi inglesa, e ela simplesmente veio me dar oi com um abraço; fui eu quem não soube o que fazer.
“Ainda bem que eu vim para cá”
Agora, com apenas uma em cada mil e poucas pessoas com covid no país, ando sem máscara na rua, e preciso me vigiar para não fazer o lipsync que a máscara escondia tão bem. Além disso, comprei ingresso para ver um musical e tenho uma nova audição no mês que vem. Quero ir ao museu assim que tiver um novo day off – não sei se deu para perceber, mas eu trabalho literalmente todos os dias – , e quero comprar um macaquinho floral de uma loja de uma moça escocesa que vi no Instagram, para sair com a perna de fora e levar várias picadas de insetinhos sentada na grama assim que o sol sair.
No fim, estou chegando ao fim do meu sétimo mês em Londres, apesar de parecer que eu cheguei há no máximo dois. Estou me sentindo tão feliz e confiante que cheguei a falar em voz alta “ainda bem que eu vim para cá!”
Então, depois deste rápido update de vida, espero que tenha justificado um pouco minha ausência: estava vivendo. Sem viver, não tenho sobre o que escrever, ou gravar vídeo, ou podcast. Sinceramente, tenho entendido que retomar a vida – mais que isso: recomeçar a vida em mais um país – exige muito mais do meu tempo e da minha cabeça do que eu esperava. Então, estou fazendo isso agora: vivendo. E espero que, em breve, mais cedo do que esperamos, você também esteja exatamente assim.
Nos vemos no próximo post.