Como visitar o Edifício Matarazzo, prédio da Prefeitura de SP

Quem atravessa o Viaduto do Chá vindo do Theatro Municipal enxerga, no alto do prédio à direita, um enorme jardim que escapa das paredes revestidas de mármore travertino. O pequeno bosque particular fica no 14o andar do Edifício Matarazzo, atual sede da Prefeitura, e é tão exclusivo que nem mesmo os funcionários que trabalham lá podem visitá-lo.

A única forma de fazer isso é participando das visitas guiadas ao prédio. Elas são gratuitas e ocorrem de segunda a sábado em dois horários: às 14h30 e 16h30. É aconselhado chegar com cerca de uma hora de antecedência para colocar o nome na lista, mas, ao contrário da visita ao Edifício Martinelli, esta não é tão disputada: fui a quinta pessoa a chegar e faltava cerca de 40 minutos para a visita; quando o passeio foi iniciado, um dos guardas perguntou para a guia se “dessa vez lotou”.

Como é a visita ao Matarazzo

A guia acompanha os 10 visitantes até a parte de fora do prédio, onde são comentados aspectos da arquitetura e os símbolos que podem ser vistos na fachada. O Edifício Matarazzo foi construído entre 1937 e 39 para ser a sede das Indústrias Matarazzo, um conglomerado que chegou a ter mais de 300 empresas em ramos distintos.

Décadas depois, foi comprado pelo grupo Audi e, mais tarde, pelo banco Banespa e apelidado de Banespinha (por isso o Altino Arantes, onde fica o Farol Santander, é chamado de Banespão). A Prefeitura de SP só foi transferida para lá em 2004!

Eu tinha ouvido falar que a arquitetura tinha “inspiração nazista”, mas nada se fala sobre isso no tour. Pesquisando melhor, descobri que o projeto final é de Marcello Piacentini, arquiteto “oficial” do fascismo italiano, e pode-se ver semelhanças com o estilo tão utilizado nos regimes autoritários da época (vale lembrar: estávamos, no Brasil, na ditadura Vargas).

Nesses governos, a arquitetura é comumente usada para demonstrar poder e passar uma ideia de intimidação. É bem a sensação que dá ao observar o prédio de 14 andares que emerge do Anhangabaú: ele é robusto, pesado, pouco convidativo.

Um ponto curioso é que, segundo a guia, os três M que podem ser vistos na fachada do prédio, sobre as sacadas, referem-se ao pai, o filho e o neto Matarazzo; segundo este site, representa a parceria entre Mussolini, Matarazzo e Martinelli.

O mural do saguão

Depois de entender a fachada do prédio, passamos rapidamente pelo saguão, que também é todo revestido de mármore, com colunas imponentes que abrem o caminho até as catracas.

Mas o que mais chama atenção ali, no entanto, é o mosaico do mapa do Brasil. Ele foi feito por um artista veneziano, Giulio Rosso, que nunca tinha visitado o país e incluiu um leão no Planalto Central. Há outros elementos que não têm muito a ver com o Brasil, como a composição do lado direito superior, e a explicação limita-se a “ele não conhecia o país”.

Clica que aumenta!

Também é interessante a inclusão de Brasília, que está no mural com uma cor diferente dos outros lugares; segundo é dito na visita, Matarazzo era muito influente, já sabia da construção da capital e quis estar à frente de seu tempo. Brasília foi de fato construída em 1960, mas a ideia é muito mais antiga; na Constituição de 1946, mesmo ano da instalação do painel, se dizia que “a Capital da União será transferida para o planalto central do País”.

Curiosidade: Giulio Rosso se mudou para cá em 1946, mesmo ano em que instalou o mosaico, e morreu no Guarujá 30 anos depois.

Grand finale: o jardim

Antes de subirmos até o 14o andar, é necessário deixar as bolsas em um guarda-volumes no térreo; só pode subir com celular e câmera fotográfica. Também não é permitido gravar vídeos.

Então, pegamos o elevador até o 12o e subimos o resto de escada. Não é uma subida difícil: o 13o andar, como em muitos prédios da época, “não existe”. É, portanto, um andar menor, e rapidamente passamos pelo último lance de escadas até o topo.

A primeira impressão é a de estar na sala da casa de alguém muito rico nos anos 50. O jardim fica em torno de uma sala de estar, que, imagino, sirva como local de espera para quem utiliza o heliponto do prédio. Mas não ficamos ali; sinceramente, não tem a menor graça perto da vista de São Paulo que está a poucos metros.

São indicados quatro pontos de observação (são três mirantes e um “extra”), que dão a volta por todo o rooftop. O primeiro, mais amplo, fica de frente para o Palácio Anchieta. De lá, pode-se ver também a Praça da Bandeira, o edifício Viadutos, um pedaço do Copan, da Biblioteca Mário de Andrade e da Praça Don José Gaspar. Até algumas antenas da Paulista são visíveis.

Primeiro mirante do Matarazzo

A estrela do segundo é o edifício Altino Arantes. Também se observa dali o Martinelli e um pedaço do Vale do Anhangabaú, mas esse é melhor visto do terceiro mirante, que fica de frente para o Theatro Municipal. Dali, vimos o Terraço Itália, o Shopping Light, o viaduto do Chá inteiro, a estação Júlio Prestes e, num dia de bom tempo, o Pico do Jaraguá.

Segundo mirante, com vista para o Altino Arantes…
…e o terceiro mirante (lá no fundo, dá para ver o Pico do Jaraguá!)

A última área visitada, onde há dois pontos de observação, dá uma vista mais geral dos prédios do Centro. Não é tão atraente quanto as outras, mas é interessante ver o mar de construções acinzentadas que formam essa região da cidade.

São Paulo vista de cima é sempre impressionante; pode-se perceber facilmente os prédios históricos entre os mais modernos, os que são bem conservados dos que já viram dias melhores, e ter uma ideia da imensidão da cidade. Mas, no topo do Matarazzo, o que interessa é olhar para dentro: há mais de 400 espécies de plantas vindas do mundo todo para compor o bosque urbano.

O jardim, chamado Walter Galera, homenageia um antigo zelador, que foi quem começou o plantio. Como algumas espécies escolhidas por ele poderiam danificar a estrutura do prédio, a maior parte das que plantou foram removidas, mas a ideia se manteve. Hoje, se veem entre elas muitos exemplares de Areca-bambu, de origem africana; Iuca, da América Central; Palmeira de leque, da China; Árvore-polvo, asiática; e até cerejeiras floridas bem no Centro de São Paulo.

 

A visita, ao todo, dura uma hora. Lá em cima, ficamos entre 30 e 40 minutos, mas a impressão é de que não tenha passado mais de 15 minutos. É uma sensação muito gostosa estar entre tanto verde no meio da cidade, e, definitivamente, uma perspectiva diferente de onde ver paisagens que já conhecemos tão bem. É uma pena que o jardim do Matarazzo seja algo tão exclusivo, e não uma ideia replicada por mais prédios.

Visita guiada ao Edifício Matarazzo

  • Quando: segundas a sábados, às 14h30 e às 16h30
  • Onde: Viaduto do Chá, 15 – Centro (metrôs próximos: Anhangabaú, Sé, São Bento)
  • Quanto: gratuito, mas precisa chegar com uma hora de antecedência

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Giovana mal pode esperar pela terça-feira à tarde na qual estará tomando um drink numa praia no Mar Mediterrâneo rindo muito de tudo isso. Enquanto isso, escreve sobre viagem e morar no exterior por aqui!