Como curtir dois dias em Ilhabela sem sol

Acordei cedinho, umas seis da manhã, para viajar dali a pouco dia para a praia, em Ilhabela, no litoral Norte de São Paulo. O Airbnb reservado, as compras de comida feitas, o carro emprestado dos sogros, a folga do namorado no trabalho… E o tempo nublado!

“Mas vamos, né?”, disse o namorado, nem cogitando desanimar.

“Claro, mas poxa”, respondi deixando clara a decepção. Eu nunca vou para a praia. Eu adoro ir para a praia, mas nunca vou. E, justo quando vou, a previsão para os dois dias é de chuva e tempo nublado!

“Imagina se a gente tivesse ido pra Capitólio mesmo”, que era nossa primeira opção. “Oito horas de viagem para chegar lá e estar pior ainda: alerta amarelo para chuvas”.

Contem suas bênçãos.

Na descida da serra, a neblina nos encontrou logo no fim da rodovia dos Imigrantes e nos acompanhou até o litoral. Era uma segunda-feira, então todos os quiosques estavam fechados e as praias, quase vazias – ou seja, pouco adiantou pegarmos a estrada mais longa para acompanhar o mar. O bom é que também não tinha fila para a balsa, e chegamos em Ilhabela no horário previsto. E com muitas nuvens.

“Olha a cor desse mar, é verde-esmeralda! Imagina com sol?”

“Olha essa vista da ilha, deve ser lindo aqui com o dia bonito”

“Mas a balsa no calor deve ser péssima.”

“Verdade.”

Balsa para Ilhabela

Sempre contem suas bênçãos.

Ainda na estrada, fizemos o pacto de não deixar o tempo ruim afetar nosso feriado falso: assim que chegássemos, iríamos tirar as malas do carro, colocar o biquíni e ir para o mar, não importasse quantos graus estivesse fazendo.

Na praia, sem sol

O Airbnb que escolhemos era, provavelmente, o melhor de toda Ilhabela: um chalé que, assim que você abre a porta, dá de cara com um rio, de forma que o único barulho que se ouve é o das correntes.

Podia entrar na água, mas estava frio. Podia sentar nas pedras, mas choveu, tinha que ter muito cuidado com a tromba d’água. Lá, só tem três chalezinhos e é um lugar feito para relaxar. Numa segunda-feira nublada, então, era o lugar perfeito para isso, e era exatamente o que eu queria: a menos de 30 dias da minha viagem para a Itália, escolhi ir para a praia para ser bem mística enquanto molhava a ponta do cabelo no rio e deixava a água levar embora toda a tensão e a insegurança, bem Deborah Blando, odoiá iemanjá. Por isso, lógico que eu não permiti que a água geladinha me privasse de fazer uma das minhas coisas preferidas, que é botar o pé na água, e cumpri o combinado com o namorado: coloquei meu biquíni por baixo das roupas e me preparei para ir ver o mar.

…Mas tinha um riozinho tão ali, tão pertinho, tão limpinho, que comecei ali mesmo. Com aquele cuidado que temos ao adentrar a natureza, toda-poderosa, subi numa das pedras mais próximas e aproveitei alguns minutos de silêncio antes de irmos para a praia.

Rio em Ilhabela

Então, voltamos para o carro e fomos para a praia do Perequê, que era a mais próxima do chalé. Descobrimos, no dia seguinte, que indo para o outro lado há muito mais praias e muito mais interessantes em dias nublados, mas, por oram só queríamos encher os cantinhos dos dedos dos pés de areia e tomar um vinho rosé na praia. Para isso, a praia do Perequê, tão vazia numa segunda-feira nublada, foi perfeita. Em dias mais favoráveis, ela costuma estar cheia por ser bastante extensa, de fácil acesso e ser de onde saem os barcos para passeios ao redor de Ilhabela, além de ser um dos pontos para praticantes de kitesurf, stand-up paddle e outros esportes aquáticos.

No nosso feriado de mentira, a situação era bem diferente.

Praia do Perequê em Ilhabela

Mas conseguimos matar um tempo ali, andar chutando a água na beira do mar, comer um peixe no único quiosque aberto, ouvir o barulho do vento e do mar sem interrupções, pensar sobre a vida e agradecer o universo por ter colocado um mar na nossa vida numa segunda-feira à tarde. Repito: uma segunda-feira à tarde. Quem se importa se tem sol??

De noite, até demos uma volta para encontrar algum restaurante aberto, mas acabamos achando mais legal fazer uns sanduíches no chalé e tomar uma cerveja em meio às árvores nativas, ao lado do rio e dividindo o espaço com insetos de todo tipo.

Tínhamos comprado um repelente em creme e colocamos toda a fé no mundo de que ele nos protegeria dos famosos borrachudos de Ilhabela – e funcionou! A dica, dada pelo pessoal que mora lá, é usar sempre repelentes em creme, porque os em spray não funcionam tão bem contra esses insetos. Tem uma marca local chamada Citroilha que é bastante indicada, mas utilizamos outro que compramos numa farmácia e não tivemos problemas.

E, ao sair da farmácia, uma surpresa: raios de sol no meio das nuvens! “Eu acredito!”, brinquei com o namorado, esperando um sol no dia seguinte. Uma mulher que estava passando falou algo sobre “a gente tem que acreditar, mesmo, com o país nessa situação…”

Dia 2

Você já dormiu com o som de um rio passando a poucos metros dali? Se sim, você provavelmente compreende o motivo pelo qual acordamos num susto, a meia hora do checkout. E também o motivo pelo qual atrasamos em alguns minutos e entrega da chave: não tinha como não passar um café bem quentinho e tomá-lo sentados na tal pedra do meio do rio, ou fazer alguns minutos de yoga no meio da natureza.

Tomando café e fazendo yoga no rio em Ilhabela Choose your fighter

Com o dia novamente nublado, nosso plano era ir na direção Sul da Ilha e repetir o combo pé na areia + peixe no quiosque, só que em outra paisagem.

Só que duas coisas aconteceram. Primeiro, a paisagem desse lado de Ilhabela é MUITO bonita. Bonita do tipo que te faz querer parar o carro a cada recuo da estrada para admirar o mar verde-esmeralda.

E, segundo, que, quando paramos em uma praia pequenininha para encher a roupa de areia, começou a sair sol! Sol de verdade! Sol que esquenta! Sol, sol, sol!

Como ele estava tímido e essa prainha não tinha nada, voltamos para a estradinha para encontrar uma praia mais badalada. Acabamos ancorando na Praia Grande, que, como o nome indica, é uma das mais extensas. A praia tem uma infraestrutura boa, com quiosques, duchas, estacionamento e até um píer para pequenas embarcações, e decidimos ficar por ali.

Seduzida pelo mar que sou, dei uma chance para a água e estava uma delícia! Logo depois, o sol saiu radiante (tive até que passar protetor, e ainda bem que fiz isso, porque a marca do biquíni teria ficado bastante ardida!) e, além de comer um peixe no quiosque, pudemos nos jogar no mar. Ou melhor, cair, já que é uma praia de tombo e levamos vários desses…

O sol durou o suficiente para nos secarmos depois da chuveirada no quiosque e antes de viajar de volta para São Paulo. Infelizmente, essa jornada de volta durou muito mais do que esperávamos: a fila para a balsa, que na ida não existia, dessa vez durou mais de três horas! Como não tínhamos hora para voltar e era uma terça-feira qualquer, não nos preocupamos em agendar um horário no site da DERSA, mas isso nos teria economizado muitas horas de espera… E, provavelmente, muita neblina também, já que, na subida da serra, pela Tamoios, enfrentamos ainda mais neblina do que na descida.

Mas nada que m espeto de frango do Frango Assado não resolva. E, algumas horas depois, acabou nosso feriado improvisado 🙂

TL;DR

  • Ilhabela fica a cerca de quatro horas de São Paulo. A estrada é bem sinalizada e segura, seja pela Mogi-Bertioga, seja pela Tamoios. Mas dirija sempre com muita atenção na serra!

  • Visitamos duas praias: Praia do Perequê, no Norte, e Praia Grande, no Sul. As duas têm a orla extensa e são bastante frequentadas, mas Ilhabela tem muitas opções para quem busca praias mais sossegadas.

  • Fica em Ilhabela uma das praias mais bonitas do país: a Praia de Castelhanos. O acesso é feito de 4×4 ou de barco. Pretendemos ir novamente, com mais tempo, para conhecê-la 🙂

  • Não subestime a necessidade de repelente! Opte pelos em creme, que são mais indicados para evitar os borrachudos. Eles atacam principalmente no verão, no fim da tarde e no início do dia. Também lembre do protetor solar, que deve ser passado cerca de 15 minutos antes do repelente.

  • É possível agendar um horário para pegar a balsa e não ficar hooooras na fila. Isso é feito no site da DERSA.

  • Use meu link no AirBnb para ter R$ 130 de créditos na sua primeira reserva 🙂

Moral da história:

Mais vale uma praia sem sol do que mais um dia ensolarado no escritório.

Fim de tarde na Praia do Perequê em Ilhabela
Ô se vale

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Giovana Penatti

Giovana Penatti

Giovana mal pode esperar pela terça-feira à tarde na qual estará tomando um drink numa praia no Mar Mediterrâneo rindo muito de tudo isso. Enquanto isso, escreve sobre viagem e morar no exterior por aqui!