Em agosto, fui pela segunda vez no ano e infinita vez na vida para Veneza. Foi a primeira vez dos meus pais na cidade, então tudo para eles era novidade. Para mim, era uma oportunidade de estar de novo em uma das minhas cidades preferidas, mas a lista de atividades para mim lá era bem curta porque eu já tinha feito tudo!
…Ou quase.
Depois de ver o sol nascendo no mar em Barcelona em um stand up paddle (mais uma história que preciso contar aqui!), eu estava um pouco mais confiante em guiar meu próprio caminho com um remo. E, sendo Veneza, como é que não tinha algum tipo de aula de gôndola para fazer??
Claro que tinha. Aliás, foi bem fácil de achar, no Google Maps mesmo, o nome de uma empresa que fazia. Descobri depois que há mais de uma, mas fiquei bem contente de ter encontrado a Row Venice. Era relativamente perto do hotel, tinha um horário para mim no dia seguinte, dava para pagar o passeio, apesar de ser meio caro…
Como os gondoleiros
Cheguei para minha aula em cima da hora, exatamente no lugar marcado no Google Maps: uma pequena ponte que dá na marina Sacca de la Misericordia, na região Cannaregio. É um ponto de encontro, não um escritório, e fica no limite da parte “principal” da cidade. É uma parte bem calma e vazia, silenciosa como Veneza pode ser se você virar na rua certa.
Alguns minutos depois, minha instrutora, Elena, apareceu e fomos até a minha “gôndola”. Na verdade, é uma batellina, um tipo de embarcação primo da gôndola preta que vemos nos canais e tradicionalmente usado para transporte de bens. Por isso, ela é um pouco maior e mais estável, ideal para aprender a remar. A técnica, no entanto, é a mesma, me garantiu Elena.
O começo da lição é em terra firme, aprendendo a posição das pernas e o balanço que seu corpo deve fazer para dar o ritmo à gôndola. Em poucos minutos, estávamos no barco, com o remo comprido e pesado em mãos. Elena foi remando na parte de trás, cuidando da direção, e eu fui na frente, como o motor.
Como o passeio todo dura uma hora e meia, tivemos tempo mais que suficiente para conversar sobre a vida. Eu estava particularmente interessada em saber como é nascer e crescer em Veneza, uma cidade tão única; Elena disse que muitos jovens vão embora porque não há muitas oportunidades de trabalho. Ela mesma teve ofertas para trabalhar em restaurantes ganhando menos de cinco euros por hora, um valor simplesmente inaceitável. Elena, aliás, é advogada. Sua paixão, no entanto, é navegar.
Mais difícil do que parece
Ficar na parte inferior da batela é relativamente tranquilo. Há mais estabilidade e tempo para ganhar confiança no processo. No entanto, o passeio que fiz apenas passou pelos canais tranquilos de Cannareggio, nos quais muitas vezes éramos a única embarcação. Em um ou outro, encontramos outros barcos fazendo entregas para restaurantes – os bastidores de Veneza, tão únicos quanto a cidade – , e nessas horas Elena sozinha nos guiou.
Enquanto fazia este post, vi no site que há um passeio que passa pelo Canal Grande, mas apenas de noite e aos domingos. Afinal, é a principal via de Veneza, e um gondoleiro inexperiente pode causar um acidente. Eu, mesmo depois de uma hora e meia de remo, não me sentiria à vontade de fazer o mesmo lá.
Em teoria, gondolar é fácil. É um movimento ritmado, sempre igual, que tem a ver com balançar o corpo para a frente e para trás e girar o remo na hora certa. Mas, na água, tudo fica mais difícil, e encontrar essa coordenação é um desafio à parte. Me lembro de ficar boa parte do trajeto com o corpo inteiro travado, como se o barco fosse virar se eu me movesse um centímetro apenas.
Mais para o fim do passeio, Elena sugeriu trocarmos de lugar, e eu pude ocupar a posição que vemos os gondoleiros ocuparem: na ponta do barco. E, se ficar na parte mais estável já me deixava tensa, ficar na ponta foi ainda mais tenso.
Eles fazem parecer simples, mas não é!
Não apenas porque não estou acostumada a navegar, mas porque o remo é pesado (e a resistência da água faz ficar mais ainda), o esforço para manter o equilíbrio fez todos os meus músculos ficarem tensos por um tempão e, no fim, uma hora e meia de remo é cansativo.
Reserve seu hotel em Veneza com desconto
Booking.comOnde fazer aulas de gôndola em Veneza
Ainda assim, é uma experiência muito legal – arrisco dizer que é a coisa mais legal que você pode fazer em Veneza. Acho difícil ter algo mais imersivo na cultura tradicional do que uma hora e meia gondolando.
Eu fui sozinha, já que meus pais preferiram ir descansar no hotel, mas é possível ir em grupo e revezar o remo, ou simplesmente guiar seus amigos ou familiares durante o passeio. Pelo que vi em Cambridge, com tantos grupos de amigos nos mesmos barcos, dividir essa experiência parece muito divertido.
Além disso, é uma oportunidade de conversar com pessoas que estão na cidade há um tempão, se é que não nasceram lá, e podem te dar uma boa ideia de como é a vida nessa cidade tão única.
Eu fiquei particularmente contente em encontrar o Row Venice por uma questão de princípios. É uma organização sem fins lucrativos fundada por mulheres e na qual apenas mulheres são instrutoras. O objetivo é manter viva a tradição do remar veneziano, oferecendo aulas e experiências para turistas e para moradores da cidade, além de trazer mais mulheres para essa prática. No site, você pode ler mais sobre como cada uma delas se envolveu com o remo e com a organização.
Elena me contou, durante nossa aula, que sua família inteira fazia regatas, inclusive ela. Depois de passar uma hora e meia passeando pelos canais tranquilos de Cannaregio, Elena guiou a batellina até um lugar vazio na marina: eu seria sua única “aluna” naquele dia, pois ela precisava descansar para a eliminatória da Regata Storica no dia seguinte.
Descobri, escrevendo este post, que ela e sua dupla terminaram a prova em quinto lugar na categoria! Várias outras mulheres da Row Venice ficaram entre as 10 primeiras colocadas, incluindo a primeira colocada, Valentina Tosi.
Serviço: aula de gôndola em Veneza
- Empresa: Row Venice
- Quanto: 85 euros (1-2 pessoas), 120 euros (3 pessoas) ou 140 euros (4 pessoas)
- Duração: uma hora e meia
- Local: Fondamenta Gasparo Contarini (ponto de encontro)
- Site oficial
