Há umas semanas, eu estive pela terceira vez em Florença. Tenho lugar de fala para afirmar que três vezes é um pouco demais para visitar a capital renascentista da Itália, mas lá estava eu novamente batendo os tornozelos nas ruas de pedra por uma tarde inteira.
Como tinha apenas um dia na cidade, resolvi fazer um walking tour. Ainda não tinha feito na cidade, mas recomendo fazer sempre que possível, especialmente se for uma viagem curta. É uma forma muito eficiente de ver os principais pontos com contexto, informações históricas por quem vive no local – e muitas vezes viveu lá a vida toda.
O guia usou a história dos Medici para falar sobre Florença. E, nesse tour, acabei aprendendo várias coisas que não imaginava sobre a cidade – não apenas fatos históricos, como o fato de que Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafaello eram praticamente vizinhos, mas também pequenas curiosidades que sequer fazia ideia.
Juntando essas curiosidades com outras que fui colhendo nos últimos anos, achei que seria interessante fazer um post de “segredos” de Florença, ou melhor, pequenas peculiaridades que não são tão óbvias à primeira vista e que podem deixar sua visita mais interessante.
1. Torres-casas medievais em Florença
Você talvez já tenha ouvido falar de San Gimignano, um vilarejo toscano que foi apelidado de “Manhattan medieval”. Isso porque, na Idade Média, a cidade chegou a ter mais de 70 torres, que serviam como casas e ostentação de poder e riqueza; hoje, ainda restam 14, que ainda garantem o visual peculiar, especialmente por se tratar de uma área pequena no alto de um morro.
No entanto, é claro que uma pequena vila a 50km de Florença não era a única com as tais torres. Bolonha é outra cidade que era cheia delas (hoje, as Duas Torres são sobreviventes dessa era), e Florença também. Mas ao longo do tempo elas foram removidas, seja por questões de segurança (afinal, a necessidade de demonstrar poder significava que elas muitas vezes eram mais altas do que a engenharia aconselharia), ou pela renovação urbana (elas se tornaram obsoletas como demonstração de poder quando os nobres começaram a viver em palácios).
Para identificar o que foi no passado uma torre-casa, basta procurar estruturas relativamente estreitas, geralmente de tijolos aparentes, com indicações de arcos no térreo e blocos próximos das janelas. Os arcos eram as entradas, e os blocos sustentavam sacadas. Nem todas têm todas essas características, mas elas ajudam a encontrar algumas!

Este post conta a história de algumas das torres mais famosas e a localização delas.

2. Onde ficam os buracos do vinho em Florença
De novo voltando aos tempos medievais, proprietários de vinícolas abriam pequenas janelas nas paredes de suas casa para vender vinho diretamente aos clientes nas ruas. Essas janelinhas ainda podem ser vistas por toda a cidade e, apesar de várias terem sido fechadas, algumas seguem em funcionamento, operadas agora por restaurantes.
Se ver alguma que tem uma portinha de madeira, é só bater e dizer ao atendente o que quer. Ele voltará em alguns minutos com seu vinho, que você pode tomar ali mesmo, na rua. Em outra visita que fiz a Florença, tomei na Osteria Belle Donne. Mas tem algumas outras, especialmente no centro histórico – este post conta alguns dos endereços, mas vale ressaltar que ele é de 2019 e talvez esteja desatualizado.
3. O rosto escondido na estátua de Perseu com a cabeça da Medusa
Na Loggia dei Lanzi, onde você pode admirar estátuas lindas de graça – algo raro em Florença – , e talvez a mais conhecida seja a estátua de Perseu com a cabeça da Medusa. Encomendada por Cosimo I de Medici, ela foi feita por Benvenuto Cellini e foi a primeira a ser colocada na Loggia.
A estátua é realmente impressionante, e as tripas da Medusa pendendo da cabeça e caindo sobre o pedestal da estátua são quase gráficas demais. Mas essa obra tem um detalhe interessante na parte de trás: o capacete de Perseu se funde com o cabelo cacheado para formar um rosto com uma barba longa. Esse rosto é um auto-retrato de Cellini.

Quem quiser confirmar pode andar alguns metros na rua à direita da Loggia, próximo à entrada da Galleria Uffizi, e encontrar ali a estátua em homenagem ao escultor.
4. Brunelleschi admirando sua obra-prima

O domo da catedral de Santa Maria del Fiore é uma obra-prima arquitetônica, especialmente para a época em que foi construída: ela precisava ser muito grande, o que também significava muito pesada e, portanto, impossível de construir seguindo a técnica tradicional da época.
Filippo Brunelleschi venceu um concurso com seu projeto, que provava ser possível construí-la sem armação em madeira, utilizando concreto – similar ao que os romanos tinham feito no Panteão mais de mil anos antes (sou uma grande fã do Panteão, como vocês sabem.)
Com 45 metros de diâmetro e 100 metros de altura, ela foi por muito tempo a maior do mundo e é um símbolo da genialidade de Brunelleschi; genialidade que não parava aí, já que ele foi quem “descobriu” a perspectiva do ponto de fuga único, o que revolucionou a pintura renascentista.
E, na Piazza del Duomo, do lado direito (como quem olha de frente para a catedral), na entrada da bilheteria do museu de arte da catedral, é possível ver uma estátua de Brunelleschi admirando a cúpula.
5. O rosto rabiscado na fachada do Palazzo Vecchio

Desde a primeira vez que fui para Florença, me surpreendi como não tem muita gente dando atenção para esse rabisco na parede. Ainda mais porque, diz a lenda, ele foi feito por Michelangelo – mas a lenda pode dizer o que quiser.
Eu particularmente não acho que um desenho entalhado na parede com autoria de Michelangelo estaria exposto a todos os eventos climáticos e sem nenhuma plaquinha.
Mas, de qualquer forma, é uma peculiaridadezinha, uma coisinha a mais para você admirar na Piazza della Signoria. Fica bem no cantinho do Palazzo Vecchio, praticamente na esquina com a Via della Ninna.
6. A única escultura feita por uma mulher no Duomo
Você provavelmente sabe que a maioria dos artistas consagrados, desde que o mundo é mundo, são homens. É extremamente raro ver obras de mulheres em lugares de destaque, ainda mais quando o lugar de destaque é a catedral de Florença, e a obra é do fim do século XIX.
No entanto, ela existe. Bem na entrada do Duomo, do lado esquerdo (de frente para a catedral), há a escultura de Santa Reparata, a santa a quem a igreja que originalmente ficava naquele lugar era dedicada. E essa escultura foi feita por uma mulher: Amalia Dupré. O autor da escultura que fica do outro lado da porta foi seu pai, Giovanni Dupré.

Você conhece outros segredos de Florença? Me conta nos comentários!