Um dia cinzento entre as cores de Treviso, na Itália

Treviso era uma cidade que estava na minha wishlist há algum tempo. Pertinho de Veneza, a cidade é toda charmosa, cortada por canais, com casas decoradas por afrescos e moinhos.

Depois de visitar Veneza numa manhã, peguei um trem que demorou cerca de meia hora para chegar a Treviso. Mas, junto comigo, chegaram nuvens bem carregadas de chuva. Na verdade, a previsão do tempo mostrava que a região estaria chuvosa pelo menos pelos próximos 10 dias! Ou seja, era só o primeiro de muitos dias em que a colorida Treviso teria como pano de fundo um céu cinzento bem feio.

Eu pareço um ímã de chuva: Bolonha, Florença, Siena, Veneza, Pádua… Conheci todas com o céu cinza!

Felizmente, a fotogenia de Treviso é mérito só dela mesma, especialmente no início da primavera. Os canais que passam pelo centro são cercados de árvores e arbustos que começam a florescer e colorir, criando uma paleta linda com a água verde-escura tão comum na região. Acrescentar o azul-claro do céu deixaria mais bonito, claro, mas podemos focar nos tons coloridos em vez dos acinzentados para apreciar o passeio.

moinho treviso

Nem adianta ficar muito irritado com as condições climáticas: ver os pontos principais de Treviso não demora mais do que duas ou três horas de caminhada. E não precisa se ater muito a um roteiro, nem ficar de olho no mapa no celular: as ruas parecem te levar naturalmente, mais cedo ou mais tarde, para os lugares que você gostaria de ver. E, no caminho, passará por alguns dos cenários mais encantadores do Veneto!

Saindo da estação, basta seguir a placa que indica o centro. A rua principal, Corso Del Popolo, te deixa do ladinho da Piazza dei Signori, a principal da cidade, que está há poucos minutos de alguns pontos interessantes.

fontana delle tette trevisoAli do lado, escondidinha, está a Fontana Delle Tete. Ela é uma escultura de mármore de uma mulher que jorra água potável dos seios e foi construída em 1560. Diz-se que, na época da República do Veneto, ela jorrava por três dias vinho tinto de um seio e branco do outro quando um novo prefeito era eleito. Hoje, é sempre só água, mas pode aproveitar para encher a sua garrafinha ou tomar ali mesmo.

A poucos metros, fica uma das vistas mais bonitas e famosas de Treviso: o Canale dei Buranelli. Aqui, você talvez sinta a atmosfera romântica de Treviso toda de uma vez, mesmo com chuva. É difícil de por em palavras, mas caminhar sob o portico ao lado observando os patinhos nadando e ouvindo quase nada além dos próprios passos e sussurros de quem mais passar por ali (inexplicavelmente, é um lugar bem silencioso!) dá vontade de ter uma mão para segurar.

Oi @, minha foto de viagem quer saber se você quer sair nela segurando minha mão

Mas a minha vista preferida está um pouco mais adiante: é a ponte Via Campana. Para mim, ela reúne em um só lugar algumas das características mais conhecidas de Treviso: tem o canal de água esmeralda que eu acho sempre tão lindo; tem as flores coloridas, nas varandas e nas árvores em torno dele; tem moinhos, que fazem um barulho muito alto de água, que eu nunca tinha ouvido; e tem as fachadas com afrescos, já gastos pelo tempo, mas que decoram a cidade com todo tipo de estampa.

É uma vista 360° de tudo que torna Treviso tão encantadora!

Pena que, bem ali, onde não há porticos para proteger do clima, a chuva apertou. Com o guarda-chuva em mãos, segui o passeio e dei bem na esquina da Igreja de São Francisco.

Confesso que, depois de quase cinco meses morando na Itália, já vi tanta igreja que poderia passar o resto da vida sem entrar em uma. Talvez abra uma exceção para a Basílica de São Pedro no futuro, já que não encarei a fila quando fui ao Vaticano; na próxima visita, quem sabe, eu esteja mais disposta. Mas, salvo algumas exceções como essa, tenho critérios bem definidos sobre visitar igrejas: só vou se for perto, grátis e tiver algo de interessante para mim (não sou católica, então essa parte religiosa não entra no meu critério).

É o caso da Igreja de São Francisco. Sua construção é de 1270 e tem um estilo predominantemente romano sobre o gótico. Ela é famosa pela coleção de afrescos feitos entre os séculos XIII e XV, que estão espalhados pelas paredes e têm diversos tamanhos.

Essa deve ser a igreja mais escura que já entrei na vida – definitivamente é mais escura do que as fotos fazem parecer. Mas, nessa atmosfera quase soturna, descobrir e observar os afrescos tem um gosto diferente. Parece que, conforme os olhos acostumam com a falta de luz, as cores e os detalhes vão se revelando.

Dei duas voltas na igreja para rever os afrescos novamente por causa disso e, assim, pude apreciar melhor as pinturas.

Sinceramente, nunca deixo de me surpreender em como afrescos são sempre preservados, em todos os lugares: seja na Capela Sistina em Roma – talvez o afresco mais famoso e importante do mundo – , seja na escura Igreja de São Francisco, seja enfrentando a chuva e o sol em Treviso, pode-se ver com certa clareza os detalhes e cores das obras.

Para terminar o dia em Treviso, minha expectativa era comer o tiramisù do Le Beccherie, restaurante que inventou a sobremesa em 1962 e até hoje a serve. Depois de esperar 40 minutos observando a chuva e descansando as pernas até dar o horário de abertura à noite – segundo o Google, 18h – , descobri que o Google estava errado e ele só abriria às 18h30. Entre comer o tiramisù e pegar o último trem de volta para casa, fiquei com a segunda opção; o tiramisù ficou para um outro dia – um de sol, espero.

Mapa

***


COMPARTILHAR
Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on email
Giovana Penatti

Giovana Penatti

Giovana mal pode esperar pela terça-feira à tarde na qual estará tomando um drink numa praia no Mar Mediterrâneo rindo muito de tudo isso. Enquanto isso, escreve sobre viagem e morar no exterior por aqui!