Subir a Pedra da Macela, em Cunha, está entre os passeios “obrigatórios” da cidade. Ela faz parte do Parque Nacional da Serra da Bocaina e tem quase dois mil metros de altura. Lá do alto, há uma vista incrível da baía de Paraty e é possível enxergar até Ilha Grande. A trilha é de 5km e em um caminho todo pavimentado. Ou seja, é relativamente tranquila de fazer, com uma recompensa grande no fim.
Então, reservamos uma tarde de domingo para conhecer a Pedra da Macela. O dia todo seria dedicado a atividades na natureza: começamos visitando cachoeiras, e, depois do almoço, fomos até ela.
Mas tivemos um obstáculo inesperado: enquanto comíamos, o clima começou a fechar. Em pouco tempo, o céu da estrada que vai de Cunha a Paraty estava todo branco, sem definição alguma: uma neblina fortíssima apareceu e estacionou sobre a região.
No entanto, não desistimos, mesmo sabendo que provavelmente não seria possível ver nada. Havia um cisco de esperança: afinal, vai que a neblina está tão baixa que, lá no topo, ficaremos acima dela?
Talvez a gente não saiba como neblina funciona.
Como chegar na Pedra da Macela
Para chegar na Pedra da Macela, é necessário pegar uns 20 minutos de estrada de terra. É a mesma que passa pela famosa cervejaria Wolkenburg.
Então, você dá de cara com um portão fechado que. Se não estiver atento – ou disposto – , esse pode ser o fim do caminho, antes mesmo de começar. É que, a partir desse ponto, é necessário seguir a pé, passando por um mata burro que fica ao lado.
Então, deixamos o carro num recuo a alguns metros dali. Peguei um galho comprido que estava encostado numa árvore e claramente tinha sido utilizado como bastão de caminhada por alguém. E começamos a subida.
Talvez você tenha muita experiência em subir montanhas, talvez não. A Pedra da Macela é amigável para quem está no segundo grupo, como eu, mas é um desafio. E, por isso, é importante que você não cometa o mesmo erro que cometi: subestimar a subida.
A subida da Pedra da Macela
Logo que chegamos ao portão, uma família apareceu e passou pelo mata burro para subir (foi assim que vimos o mata burro, rs). Um dos membros estava até de chinelo! Por isso, pensamos que não deveria ser tão complicada. E, logo que iniciamos a caminhada, encontramos o mesmo grupo descendo; uni os pontos e pensei que, talvez, a medida fosse 2 mil metros acima do mar e a subida não fosse tão alta.
…Rapaz, eu acho que nunca na minha vida eu estive TÃO errada.
O início é tranquilo, pouco íngreme, e permite ir batendo papo e andando normalmente. No entanto, logo o caminho começa a inclinar e, a partir daí, é preciso ir com um pouco mais de calma.
Além disso, nós tivemos mais um percalço: a neblina intensa trouxe uma umidade forte ao ar e, às vezes, uma garoa fina. Então, a sensação térmica era de bastante frio e o pavimento, que tem muitas pedrinhas soltas, escorregava molhado sob os nossos pés, o que exigiu um esforço extra.
Então, sem qualquer visibilidade além da trilha – brincamos que parecia um mapa de videogame que ainda não foi destravado – , não conseguíamos, também, ter noção do quanto já tínhamos andado.
A questão do condicionamento físico
Meu marido sofre todos os dias com a rinite e, por ser ciclista, estava muito bem preparado para a subida. Em meio à natureza, com um bom condicionamento, falava sobre como estava respirando bem e caminhava sem problemas. Para ele, estar subindo a Pedra da Macela era uma experiência muito boa.
Por outro lao, para mim, o sedentarismo pegou forte. Mais de uma vez, me sentei e senti o coração bater na garganta, enquanto forçava bocejos para respirar o suficiente. Minhas pernas doíam, meus braços não tinham forças.
Alguns minutos depois, me levantava e decidia continuar a caminhada. Como não dava para saber a altura em que estava, o que me motivava era pensar que, talvez, o fim estivesse na próxima curva.
“Olha as árvores ali no fundo. São as mais altas. Não tem mais nada depois. O fim é ali.”
Enganados pela neblina, pensamos estar perto do fim muito mais vezes do que gostaríamos. E, de fim em fim, seguimos a caminhada, cada vez mais íngreme, com os pés escorregando mais e mais, e eu cada vez mais cansada.
Tão perto e tão longe
Até que, em certo ponto, eu desmontei.
Sentei no chão, praticamente caí, e uma frase saiu da minha boca sem que eu controlasse: “eu não consigo mais subir.”
Meu marido disse que ele também não iria e sentou do meu lado. Insisti que ele deveria ir e, na volta, me encontrar de novo para descermos. Mas ele insistiu que não me deixaria sozinha ali, perto de grandes perigos da selva como onças-pintadas, suçuaranas, urubus-reis e macacos-pregos, que provavelmente têm mais medo de gente do que a gente deles. (obs: não vimos nenhum desses animais, mas eles existem no parque!)
Então, desanimada e frustrada, peguei o celular para tentar me localizar geograficamente no Google Maps. Sabia que estaria sem sinal. Afinal, a recepção é péssima na serra de Cunha e nem na pousada o 4G funcionava.
Mas o GPS, sim! E descobri que aquilo que eu pensava ser o caminho de carro marcado no mapa era, na verdade, toda a subida da Macela!
Faltava pouco. Tão pouco que, se eu desistisse nesse ponto, sentia que nunca mais me levaria a sério na vida. Portanto, me levantei, respirei fundo e firmei o pé por mais uns 200 metros de subida.
Pedra da Macela com neblina
Após a última curva, quando finalmente não havia mesmo mais árvore escondidas na neblina, demos de cara com… Um portão fechado.
Mas foi um susto de segundos. Há, ali mesmo, uma placa explicando onde ficam os mirantes.
O primeiro ponto que fomos foi virando à esquerda, onde há uma pedra alta, que praticamente implora para ser escalada. De lá, pudemos ver, a uma altura ainda mais elevada, absolutamente nada.
Seguindo para o outro lado, passamos pela área de camping, normalmente usada por quem decide dormir lá e ver o sol nascer no mar (estava, como esperado, vazia). Nos sentimos vitoriosos ao ver a placa que celebra a conclusão da subida, mesmo sem ter a mínima ideia do quanto subimos. E, ao chegar nos mirantes, pudemos ver, de diversos ângulos, vários nada.
E a descida?
Depois que passamos tempo o suficiente contemplando a neblina, chegou a hora da descida. Como era o final da tarde, o dia estava dando sinais de que não duraria muito mais, e a noite veio avançando rápida.
Não há nenhuma iluminação na Pedra da Macela. Aliás, imagino que, em noites de céu limpo, a lua se encarregue disso, mas não foi o nosso caso. Então, a descida teve que ser apressada. No fim, o flash do celular quebrou o galho para garantir que estávamos pisando no chão, e não nos sapos que começaram a aparecer.
Para mim, a descida foi mais fácil – a descer, todo sando ajuda. Já para o meu marido, foi mais penosa: ele reclamou de dores no joelho e nas costas.
Descobrimos depois, conversando com minha amiga Luana, que nos indicou o passeio (você já leu um texto dela aqui no blog, sobre trabalhar em cruzeiro!), que estávamos bastante desequipados. Inclusive os sapatos, que eu achava serem os certos, não eram. Fomos com tênis de caminhada, já que a trilha era pavimentada, mas o correto seria usar aquelas botas feitas para trilha, mesmo. O solado delas parece um pneu e, com certeza, teria sido bem mais fácil…
Vale a pena subir a Pedra da Macela?
Apesar da neblina, subir a Pedra da Macela foi um passeio do qual não nos arrependemos. Também não acho que seja obrigatório para quem vai a Cunha, já que exige muito do físico e nem todo mundo tem condições – ou vontade – de encarar.
Mas existe algo muito íntimo e pessoal em fazer um passeio desses, mesmo sem a recompensa da vista tão famosa no fim. Afinal, tem todo um contexto de superação, de acreditar em si mesmo, de ter paciência passo após passo, de respirar fundo e saber que um segundo vem após o outro…
Talvez tenha sido um grande – enorme, gigante, de 2 mil metros de altura – teste para a minha ansiedade. Não saí curada, mas passei por ele e sobrevivi!
Além disso, fomos a Cunha para a nossa lua de mel; então, estávamos praticamente recém-casados (apesar de termos demorado dois meses para fazê-la, rs). Arrisco dizer que a Pedra da Macela foi nosso primeiro grande desafio como casal oficializado, algo que superamos juntos, nos ajudando mutuamente: ele, me incentivando a subir quando eu quis desistir; eu, espantando os sapos na volta para que ele os evitasse (tenho medo de sapo, mas meu marido tem uma verdadeira fobia!). Parece besteira, mas tenho a impressão de que enfrentar toda essa jornada nos deixou mais unidos!
Mas a gente queria, sim, ter visto o por do sol lá de cima. Agora que já sabemos que conseguimos, fica para a próxima!
Vídeo
VEJA OS OUTROS POSTS DO BLOG SOBRE CUNHA:
- Onde ver lavanda em Cunha: Lavandário x Contemplário
- Cachoeira em Cunha: não uma, mas TRÊS para conhecer em uma tarde
- O melhor post para ler antes de ir para Cunha – SP!